segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Onde está minha ovelha?!



Um pastor de ovelhas, em um dos seus dias de pastoreio, encontrou uma ovelhinha que estava presa entre galhos dentro de um buraco no meio do mato.

A situação da ovelha era de risco, pois ela esta estava “virada”. Ao cair, suas patinhas ficaram para cima e ela balia, balia... Porém, quando o pastor se aproximou, quase já não se podia ouvir seu balido, pois à medida que a ovelha fica virada, seu saco ruminante vai se enchendo de ar, o que pode levá-la à morte.

Para piorar a situação, os galhos que prendiam a ovelha eram de espinheiro e seu corpinho frágil estava todo ferido e ela sangrava muito. O cheiro do sangue havia atraído uma matilha que passava na proximidade e os lobos se encaminhavam para onde estava a pobre ovelha. Porém, tomado pelo instinto pastoral, o perigo não deteve o pastor. Ele pegou sua vara e começou a brandi-la contra aqueles animais ferozes. A força de proteção que o tomou foi tão grande, que os lobos fugiram assustados. O apascentador jamais deixaria que uma ovelhinha, mesmo tão machucada, fosse devorada ou que morresse pelos ferimentos ou ainda pelo ar que tomava seu saco ruminante. Ele não mediu distância e não temeu o perigo que os logos representavam para sua própria vida.

Assim que se viu livre da matilha o pastor pulou dentro do buraco onde estava a ovelha. Seus pés logo foram feridos pelos espinhos. À medida que tentava desvencilhar a ovelha do espinheiro, seu braços também começaram a sangrar. E embora sentisse dor, seu amor pela ovelha indefesa o tornara um gigante altruísta. Ele salvaria a ovelha a qualquer custo. Após algum tempo pastor e ovelha, ambos machucados, se encontravam fora do espinheiro. O pastor tomou seu cantil e, ignorando seus próprios ferimentos, começou a lavar o corpinho da ovelha. Logo após, tomou o ungüento que trazia em sua aljava e passou sobre as machucaduras da ovelha. Enquanto assim o fazia, descobriu que uma das patinhas do animal estava quebrada. Então, ele a tomou em seu ombro e empreendeu seu caminho para o aprisco, onde imobilizou sua patinha quebrada e a colocou para dormir em um cantinho seguro e afofado. Próximo à ela, colocou água fresca e comida. Assim, apesar de cansado e ferido, sentiu sua alma de pastor satisfeita porque havia cumprido sua missão. Ah! Ele nascera para ser pastor. Satisfeito retirou-se para cuidar de suas próprias feridas.

No dia seguinte, logo cedinho, com os primeiros raios do sol, lá estava o bom pastor verificando como estava sua ovelhinha. Isso ocorreu diariamente durante a recuperação do animal, até que, num belo dia a encontrou já de pé, junto às demais ovelhas do aprisco. Ele então, feliz, feliz, encaminhou seu rebanho para a área de pastagem, como sempre o fazia.

Porém, num determinado final de tarde, o pastor ao contar suas ovelhas descobriu que faltava uma. Seu coração começou a bater forte e ele dizia aflito: “Eu não acredito, eu não acredito, não pode ser, meu Deus!”. A ovelha que seus olhos procuravam ver e seu coração buscava era a ovelhinha por quem seu corpo sangrara. Ele então recolheu o rebanho em segurança e logo após empreendeu uma busca frenética pela ovelhinha.

Quando a noite se fez densa e seus olhos não conseguiam mais distinguir nada, ele retornou para seu lar, porém, não conseguiu conciliar o sono. Logo cedo, cuidou das ovelhas que estavam no aprisco e saiu em busca da ovelhinha perdida e nada. Sua aflição foi aumentando à medida que os dias passavam em buscas vãs. A única coisa que lhe vinha à mente era: “Onde está a minha ovelha?!”.

Num desses dias de aflita procura, o pastor passou por uma fazenda próxima a sua. E para sua surpresa, seus olhos que percorriam as paragens como que perdidos, deram sobre um grupo de ovelhas que pastavam do outro lado da cerca. Uma delas se destacou porque seu pêlo estava brilhando mais do que as outras. Ele então falou consigo mesmo: “Eu conheço esse brilho, minhas mãos o fizeram quando durante vários dias eu passava ungüento naquela ovelha”. Sim, aquela era a ovelhinha que o pastor defendera dos lobos e pela qual arriscou a própria vida. Não, ele não a deixaria nas mãos de outro. Logo procurou o responsável daquela fazenda e disse que aquela ovelha era sua. Porém, o outro, ríspido e desdenhando do pobre pastor, lhe disse: “Daqui você não a tira”. O pastor então, quis saber: “Como minha ovelha veio parar aqui?”. E a resposta: “Eu passei com minhas ovelhas por onde você pastoreava e eu fui atraído pelo brilho daquela pelagem. Então, fui deixando cair um pouco de grama que trazia em minhas mãos e aquela ovelhinha brilhante veio atrás de mim. Ora, meu pastor, eu não sou culpado, a ovelha é que me acompanhou!”. Ao que o pastor respondeu: “Então, devolva a minha ovelha”. E ouviu uma dolorosa resposta: “Daqui você não a tira. E saia logo das minhas terras antes que o mande retirar a força”.

Cabisbaixo e chorando, o pastor retornou para seus termos. Enquanto fazia uma das mais dolorosas e penosas caminhada de regresso, seu coração meditava: “Eu salvei a vida daquela ovelhinha, cuidei de suas feridas, lhe dei alimento, providenciei que não lhe faltasse água fresca, sempre a conduzi para as regiões de sombra quando o sol estava forte, e à noite, jamais deixei que ela ficasse exposta ao sereno. E num dia em que eu estava a curar as feridas de uma outra ovelhinha de meu rebanho, passa um mercenário e com um ínfimo punhado de grama atrai a minha ovelha e a leva para longe de mim. Logo agora? Ela estava prenhe e iria se multiplicar! Meu rebanho ia aumentar, outras ovelhinhas iriam saltitar em minhas verdejantes pastagens. Mas o mercenário viu que minha ovelha estava na hora de dar a luz, de dar leite, de dar lã e a cobiçou”.

Nos dias subseqüentes, o “pastor” usurpador passava com a ovelhinha diante dos olhos do pastor. Parecia que aquele queria machucar ainda mais seu coração sofredor. Num desses dias o pastor percebeu que a pelagem da ovelha já não brilhava mais, ela tornara-se igual às outras com sua lã toda suja e emaranhada. Porém, numa determinada manhã, seu coração bateu forte quando viu passar o usurpador e não viu junto a ele sua amada ovelhinha fujona. Não resistindo a necessidade de saber notícias, procurou saber com os cuidadores de ovelhas da região o que se passava. E, para sua surpresa, foi informado de que aquele homem, na realidade, era um negociante e havia vendido sua ovelhinha brilhante para um frigorífico local.

Bom, se você conseguiu ler esse texto até aqui, talvez se pergunte o porquê dessa longa história. Meu amigo, minha amiga, esse é o sentimento que está em minha alma. Seu tema é o grito do meu coração: “Cadê minha ovelha?!”. Muitos negociantes há por aí, que não sabem quanto representa cuidar de uma ovelhinha até que sua pelagem fique brilhante, até que ela comece a se multiplicar... Eles a querem pronta. Pronta para o abate. Negociam sua carne e seu pelo como quem faz leilão de coisa qualquer. Diferente do pastor que é atraído pelo balido de dor de seu rebanho, o mercenário é atraído pelo brilho e pelo quanto pode lucrar. Sobre tempos como esse, o apóstulo Paulo já nos advertia:

Eu sei que depois da minha partida entrarão no meio de vós lobos cruéis que não pouparão rebanho,
e que dentre vós mesmos se levantarão homens, falando coisas perversas para atrair os discípulos após si.
Portanto vigiai, lembrando-vos de que por três anos não cessei noite e dia de admoestar com lágrimas a cada um de vós.
Agora pois, vos encomendo a Deus e à palavra da sua graça, àquele que é poderoso para vos edificar e dar herança entre todos os que são santificados.
De ninguém cobicei prata, nem ouro, nem vestes.
Vós mesmos sabeis que estas mãos proveram as minhas necessidades e as dos que estavam comigo.
Em tudo vos dei o exemplo de que assim trabalhando, é necessário socorrer os enfermos, recordando as palavras do Senhor Jesus, porquanto ele mesmo disse: Coisa mais bem-aventurada é dar do que receber
(At 20.29-35).

Um comentário:

david santos disse...

Adorei! Mas cheguei a pensar que tudo iria acabar pior.
Mas não. acabou por acabar bem.

Parabéns.